Crise na indústria química: demanda nacional recua 4,6% no 1º semestre de 2023

Quarta-Feira, 02 de Agosto de 2023

Desaceleração da economia e elevação de importações derrubam produção, vendas internas e exportações de produtos químicos

De acordo com os dados preliminares dos indicadores Abiquim-Fipe relativos ao 1º semestre de 2023, a demanda nacional por químicos de uso industrial apresentou resultados negativos, em termos de volume, na comparação com igual período do ano anterior. O consumo aparente nacional (CAN) – resultado da soma da produção e importação, menos a exportação – recuou expressivos 4,6%, refletindo a atuação de diversas cadeias atendidas pela indústria química. Os componentes que integram o cálculo do CAN tiveram os seguintes desempenhos no período: índice de produção -9,73%, importações +0,6% e exportações -3,9%. O índice de vendas internas também foi negativo com recuo de 11,0%.

Essa performance é atribuída especialmente ao arrefecimento da atividade econômica, notadamente a partir do final do ano passado, mas sobretudo pelos impactos adversos da guerra entre Rússia e Ucrânia, desde fevereiro de 2022, sobre a atividade do setor e da economia nacional e internacional como um todo. Em meio ao cenário complicado em termos de volumes, soma-se a pressão pela redução de preços dos produtos químicos no mercado internacional.

O preço médio do produto importado recuou 28,2% no 1º semestre de 2023, sobre a média de igual período do ano anterior. Esse comportamento também tem impactado os preços no mercado doméstico, que tiveram deflação, medida pelo IGP Abiquim-FIPE, de 9,0% entre janeiro e junho de 2023.

Os números relativos ao mês de junho de 2023, bem como ao primeiro e segundo trimestre do ano, comparados aos respectivos períodos anteriores impressionam igualmente. No que tange aos últimos 12 meses encerrados em junho de 2023, em relação aos doze meses imediatamente anteriores, a análise mostra resultados também nada animadores

Confira, na tabela abaixo, os principais indicadores do Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da Abiquim:

Como resultado, o nível de utilização da capacidade instalada ficou em 67%, cinco pontos abaixo do registrado em igual período do ano passado (72%), com fortes reflexos dos grupos intermediários para fibras sintéticas (de 75% no 1º semestre de 2022 para 56% no 1º semestre de 2023), solventes industriais (de 89% para 71%) e resinas termoplásticas (de 77% para 69%).

Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, à parte do momento delicado pelo qual a indústria química mundial vem passando com recuo da demanda e ciclo de baixa em preços, o Brasil preocupa pela excessiva participação das importações sobre a demanda local, que se encontra em declínio, o que mostra que o produtor local está perdendo espaço para o produtor de lá de fora. “O principal elemento de custos do setor químico, que afeta a produção e impede o avanço de investimentos, está relacionado ao custo das matérias-primas básicas e a energia. Além disso, o setor perdeu seu principal instrumento fiscal, que foi a eliminação do REIQ – Regime Especial da Indústria Química, tendo sido muito impactado também pela redução das alíquotas do imposto de importação de diversos produtos no ano passado.”

Coviello destaca ainda que o cenário do início deste ano no Brasil tem sido muito desafiador: o gás natural custa de três a quatro vezes mais aqui do que nos Estados Unidos e o dobro do europeu, enquanto a tarifa de energia é o dobro da americana. “No caso da energia, pelo menos metade do seu custo é composta por encargos e tributos, que prejudicam a produção local. Além de as matérias-primas serem mais caras no Brasil, a química depende de nafta petroquímica importada, que é afetada também pela valorização do Real em relação ao Dólar. Esse quadro interno contrasta com o cenário internacional, em especial dos países que estão exportando produtos para o Brasil, como a China e a Índia”, ressalta.

Uma oportunidade de transformar esse cenário, de acordo com Coviello, está refletida no programa Gás para Empregar, anunciado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que pode tornar o Brasil mais competitivo, atraindo investimentos que estão, há tempos, represados, ajudando na reindustrialização, na criação de novos empregos e de receitas tributárias. “No entanto, além do programa Gás para Empregar, que deve trazer impactos apenas no médio prazo, algum mecanismo de proteção ao mercado nacional e à indústria local precisará ser adotado, sob o risco de desestruturar importantes cadeias produtivas, levando ao fechamento de unidades produtivas que hoje já operam com elevada ociosidade”, alerta a diretora da Abiquim.

Fonte: Abiquim Informa